quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Depósitos a prazo? Não, obrigado...

Deduções: o depósito a prazo é o colchão contemporâneo, onde se colocam as notas que valem cada vez menos. Em produtos sem risco, não há retorno positivo, razão pela qual os benefícios fiscais são os melhores amigos da banca, que vendem magotes de PPR sem pagar grande coisa por isso. É também por essa razão que a banca insiste na diversificação, em doses moderadas, para produtos com risco (risco-acções, risco-países, risco-moedas...). Mas nos últimos meses mais um traço contínuo foi ultrapassado: as taxas de referência, as Euribor, já estão mais elevadas que as taxas dos depósitos.

Comentários: as taxas de juro permanecem baixas; os níveis de endividamento dos portugueses (famílias, empresas e "Estados", incluindo autarquias) é que estão elevados. Quando o BCE sobe os juros, martiriza o devedor exercendo um controlo inflacionista apertado, que leva alguns a chamar o senhor Trichet de fundamentalista e outros, como a nova coqueluche Segolène Royal, a alvitrar o fim da definição independente das políticas monetárias, que voltariam a ser incumbência dos políticos (um retrocesso, como classificou Sarsfield Cabral). Há, ainda, o custo implícito para um país como Portugal de pertencer ao grupo robusto do euro: pagamos taxas europeias com inflação portuguesa. Para as famílias, esse sobrecusto trava ímpetos consumistas; para as empresas, o investimento torna-se mais selectivo; para a banca, o fosso entre as taxas que cobram nos empréstimos (que sobem mesmo antes das revisões do BCE) e as que pagam nos depósitos (que se perpetuam no seu desdoiro) é mais um factor no somatório de comissões, fiscalidades, arredondamentos e internacionalizações que explicam lucros espantosos. Não é errado: taxa de juro é o preço que o banco paga pelo dinheiro do depositante; há um século, na economia de produção, o preço definia-se em função do custo do produto/serviço; hoje, um bom director de marketing monta-se na curva da procura e cobra o máximo (ou paga o mínimo) que o cliente está disposto a pagar. É isto que os bancos fazem, fazem-no bem e fazem bem.

Excepções: todos os depósitos a prazo são negativos? Não. Por um lado, há taxas promocionais de bancos com necessidade de crescer. A Internet tem liderado na Europa os melhores créditos e depósitos. Por outro lado, há taxas para pouco dinheiro e taxas para dinheiro que se veja. Para quaisquer 100 mil euros, os bancos já oferecem depósitos a prazo indexados à Euribor (mais um "spread" crescente conforme sobe o valor). No final de 2006, os maiores bancos digladiaram-se pelos melhores clientes para fechar os balanços em beleza, oferecendo taxas próximas dos 5% mesmo para valores pouco milionários.
Conclusões: as famílias portuguesas ainda são superavitárias, têm mais activos que passivos. O problema é que as famílias que têm os activos não são as que têm os passivos. E a não ser que se tenha dinheiro que se veja, não há como ganhar em depósitos a prazo, cujo único atributo é a disponibilidade quase imediata.
Um depósito vale pouco. Menos que o seu dinheiro. Mas é inútil atacar os bancos pela sovinice. Só mais informação evita a avareza. Quer ganhar dinheiro? Pergunte-nos como.



In “Jornal de Negócios”

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